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Nego Gallo lança videoclipe e planeja disco novo da Costa a Costa para 2020

Ronald Rios

26/12/2019 17h22

O Nego Gallo tem aperto de mão firme. Encara no olho quando fala. Pode ter sido daí que ele ganhou a fama de ser tão real. Ele é sério até abrir um sorriso e você ver que ele é o seu xapa daquelas canções, de Costa a Costa até sua carreia solo. Há muitos anos no game, ele deu pontapé em 2019 com a mixtape "Veterano", um dos trabalhos mais foda do ano. Fez um show histórico de estreia com participação de Don L e outros irmãos. Antes de fechar o ano, ele resolveu dar um presente de Natal pra gente com o videoclipe de "Onda Há Fogo Há Fumaça". A equipe do Rap Cru (leia-se Ronald Rios e as vozes em sua cabeça) quebrou o recesso do fim de ano para conversar com essa figura talentosíssima:
Ronald: Ainda deu tempo de lançar um clipe pra fechar o ano. Escolheu "Onde Há Fogo" por quê?

Gallo: Verdade. Uma grata surpresa. Na real não acompanhei o processo depois das gravações que se deram em março mas fiquei muito feliz com o resultado. A faixa é uma das que eu mais gosto e tem a sonoridade que buscamos e tenho identificação. Um presente de Larozza, André Maleronka e Don L pra mim e pra geral que acompanha.

Ronald: Como você avalia seu 2019? Um dos trampos mais cotados do ano, um show histórico no SESC Pompéia, qual foi o saldo? Faltou alguma coisa ou tá contente?

Gallo: 2019 foi um ano de lutas e desafios em um país polarizado em que a Economia se encontra estagnada. Para a arte isso significa quase sempre o investimento no "mais do mesmo", tendo pouca ou quase nenhuma oportunidade para nomes fora do eixo (Sudeste). Mas trago o sentimento de gratidão por todos os amigos que fiz e venho fazendo. O episódio do SESC me traz a sensação de dever cumprido que começou um tempo antes quando reuni no SESC Belenzinho oportunizando a outros da minha região essa experiência através do apoio de nossos amigos em São Paulo.
Ronald: Por não morar em SP, você acha que é mais embaçado pro seu nome ser mencionado nas conversas na cena aqui? A porra do networking, né?

Gallo: Na verdade não acho que estar em Fortaleza-CE seja o problema. Aviões existem pra facilitar isso. Como falei, realizamos shows importantes com críticas positivas. O que me parece é que não é do interesse dos promotores de festa no Sudeste ter nomes de outras regiões. Falo especificamente dos nordestinos. Mas num país como o nosso, acredito que é melhor não estar nesses espaços. Eu quero algo novo.

Ronald: No show de lançamento do seu disco, vocês meteram um Costa a Costa para catarse da galera. Vocês pensam em lançar um projeto juntos ainda?

Gallo: Eu e Don falamos disso em Jericoacoara. Quero lançar um álbum com inéditas do Costa a Costa no final de 2020. Vamos nos organizar pra tornar isso viável.

 

Ronald: Aliás, é só questão de liberação de samples que impede as músicas do Costa a Costa de estar nas plataformas digitais?

Galo: Sim, isso é um impeditivo. Outro motivo é nossa vontade de que os royalties gerados sejam revertidos para o Flip Jay, amigo e DJ que nos acompanhava naquele momento.

Ronald: Você é o veterano com sede de novato. O negócio de música é meio maluco, a exposição mexe com as pessoas. Como você faz pra segurar sua onda e administrar as preocupações que vem com o ofício de MC?Gallo: Na real não me sinto diferente em nada e as preocupações que esse trampo traz nem de longe são algo que eu possa enxergar como pressão ou algo assim. Eu sigo trabalhando muitas vezes, não com a musica. Eu sigo o mesmo sem frescura.

Ronald: "Veterano" é um trampo muito fresco, meses depois ainda é super divertido ouvi-lo. E isso é meio que uma parada que eu noto nos seus versos. Sempre tem um sabor atual. Qual cuidado cê tem na construção das músicas pra elas não serem descartáveis?

Gallo: Fico feliz de você se sentir assim com o álbum. Porque é bem isso desde o Costa a Costa: estar conectado com o Brasil real. A apatia e alienação são tudo que eu não quero na minha música.

Ronald: E 2020? O que o Gallo traz pra nóis?

Gallo: Bom, 2020 é o inicio de uma década que me enche de esperança. Já trabalhamos algumas novas faixas e conversamos com outros artistas pra essa nova empreitada, então que venham os melhores sentimentos porque os desafios estão aí e os nordestinos vivem lutas épicas.

Sobre o autor

Ronald Rios é roteirista, comediante e documentarista. Apresentou o "Badalhoca MTV" de 2008 a 2011 na MTV Brasil. Na Band fazia o quadro "Documento da Semana" dentro do programa CQC, num formato de pequenos docs sobre pautas atuais na sociedade brasileira. Escreveu para o Yahoo, UOL, VICE, Estadão, Playboy, Red Bull e Billboard. Em 2016 fez a série de documentários "Histórias do Rap Nacional" para a TV Gazeta. Ronald também apresentou de 2010 a 2012 o programa "Oráculo" na Jovem Pan FM e foi roteirista do Multishow de 2009 a 2011, pela produtos 2 MLQS, onde rodou o programa de TV Brazilians, eleito um dos 5 melhores pilotos de TV nacionais de 2011 pelo Festival de Pitching de TV da operadora Oi. Em 2017 e 2018 rodou pequenos docs, podcasts e campanhas multimídia para o artista Emicida na gravadora Laboratório Fantasma.

Sobre o blog

Rap Cru é o blog do roteirista e documentarista Ronald Rios sobre Hip Hop. Brasileiro, americano, britânico, latino… o que tiver beats e rimas, DJs, grafiteiros e b-boys e b-girls, tem nossa presença lá.

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