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Os atrasos de Kanye não me tiram o sono

Ronald Rios

11/10/2019 11h02

A Internet cobra. Certa ou errada, ela cobra. Ninguém compra um disco original na loja mas se revolta quando ele atrasa para aterrisar na sua biblioteca do Spotify. O fã de música é cansativo. O fã de Kanye West é estressante, um misto de amor e ódio que apenas assassinos passionais carregam. As pessoas estão bravas – espumando de raiva, eu vejo – com os atrasos de Jesus is King. Ou Yandhi. Ou seja lá qual for o nome do novo disco do Kanye West a essa altura. Se não for "Make America Great Again", eu estou feliz.

Kanye teve várias faixas vazadas do Yandhi. Isso deu uma broxada nele com o projeto. Especialmente porque as faixas não estavam finalizadas. Então ele partiu pra Jesus is King. Ele já fez umas festas de audição e adiou a data de lançamento do disco mais de uma vez. O motivo: não tá batendo pra ele. Não tá rolando ainda. Não tá agradando o Mr West. Tá faltando alguma coisa. Convidados, tipo Minaj, regravando versos aos 45 do segundo tempo – ou como os gringos falam, the 11th hour – ajustes nos arranjos, mix, master, Kanye está fazendo menos "festas de audição" e mais "sessões de teste" do disco dele. Experiências públicas do disco. Simples. E ele ainda não tá sentindo. Senão já tinha lançado.

O fã de música está mal acostumado. Ele acredita que por pagar uma assinatura premium do seu serviço favorito, ele está em mesmo pé de igualdade com o público que antigamente pegava fila pra comprar o disco na loja. Não está. O retorno pro artista não é igual. Então não espere que datas de lançamento de projetos virtuais sejam respeitadas como as datas de lançamentos físicos, como era uns 15 anos atrás. Não vai ser. Não tem que imprimir capa, encarte, queimar CDs, prensar vinis e todas as coisas que garantiam que se um álbum era pra sair sexta-feira, era sexta-feira – porque ele já estava pronto há um semanas. Esse direito não nos pertence mais – e foi a gente que escolheu consumir música assim.

Se literalmente Kanye West fez alterações em "Pablo" DEPOIS de ter lançado o disco – o que me irrita deveras, uma vez que saiu, saiu – o que dá pra esperar de um perfeccionista que pode esperar até o último segundo antes de upar o álbum nos streamings? Que ele fale "nah, ainda não."

Quem está com sede por Kanye West, vá ouvir os outros trampos dele enquanto isso, em vez de reclamar online que a entrega de vocês não chegou. Eu duvido que você deu a atenção devida a TODOS os lançamamentos dele – solos, em dupla ou banca. Eu sei que eu não. Então tem coisa pra ouvir.

Se ouviu, vai reouvir.

Se já ouviu a exaustão, vá ouvir a discografia de produção de Kanye.

Se já ouviu, aumenta seu conhecimento em Hip Hop e ouça outros grandes artistas que vieram antes. Apenas relaxem no hype. Ele faz vocês ansiosos e aumentam muito a expectativa por algo – e isso nunca é bom, porque se o disco não soar como a nona maravilha do mundo, vai parecer um tombo do Rei West.

Resumindo: relaxem. Quando sair, saiu. Se não sair, não saiu. Ou vocês não aprenderam nada com o Detox?

Paz,
Ronald Rios

Sobre o autor

Ronald Rios é roteirista, comediante e documentarista. Apresentou o "Badalhoca MTV" de 2008 a 2011 na MTV Brasil. Na Band fazia o quadro "Documento da Semana" dentro do programa CQC, num formato de pequenos docs sobre pautas atuais na sociedade brasileira. Escreveu para o Yahoo, UOL, VICE, Estadão, Playboy, Red Bull e Billboard. Em 2016 fez a série de documentários "Histórias do Rap Nacional" para a TV Gazeta. Ronald também apresentou de 2010 a 2012 o programa "Oráculo" na Jovem Pan FM e foi roteirista do Multishow de 2009 a 2011, pela produtos 2 MLQS, onde rodou o programa de TV Brazilians, eleito um dos 5 melhores pilotos de TV nacionais de 2011 pelo Festival de Pitching de TV da operadora Oi. Em 2017 e 2018 rodou pequenos docs, podcasts e campanhas multimídia para o artista Emicida na gravadora Laboratório Fantasma.

Sobre o blog

Rap Cru é o blog do roteirista e documentarista Ronald Rios sobre Hip Hop. Brasileiro, americano, britânico, latino… o que tiver beats e rimas, DJs, grafiteiros e b-boys e b-girls, tem nossa presença lá.

Rap Cru