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Rincon Sapiência fala sobre próximo disco e planos pro seu próprio selo

Ronald Rios

04/09/2019 08h35

Rincon Sapiência lançou o single "Mundo Manicongo", com exclusividade no canal Colors Studios, canal alemão com 3,5 milhões de inscritos no YouTube. A proposta nova dele é bastante amparada na musicalidade africana contemporânea, no som moderno sendo feito do outro lado do oceano.  Depois de uma turnê bem sucedida do disco "Galanga Livre", seu primeiro álbum oficial, Rincon volta com fome de informação e de pesquisa para apresentar um novo som. Ele fala nessa entrevista o que anda escutando, preparando e quais seus planos para seu próprio selo, MGoma: filmes e documentários – mas primeiro, a missão é o lançamento do seu segundo disco de estúdio. O rapper conversou com o blog.

 

Ronald: O seu jeito de se gabar dá uma sensação de coletivo. Faz quem tá ouvindo se gabar. Esse single conversa é muito intrínseco ao brasileiro. Qual é seu objetivo quando tá conectando palavras, pensando no receptor?

Rincon: Tem várias mensagens que permeiam. O passeio para essa faixa tá muito mais na rítmica, na variedade de informações, isso dá a a ideia de eu estar trazendo meu mundo e algumas diretrizes das quais eu aponto os novos projetos que têm a ver com a dança. Eu não calculo tanto como isso vai ser recebido mas a parte criativa é um pouco de jogo de palavras em conjunto com a música. Nem o texto tá na frente nem a música. É um conjunto bem equilibrado de tudo sem muita complexidade – mas não que seja algo raso.

Ronald: Você tem seu próprio selo agora. Fora lançar seus trabalhos, qual seu plano para ele a longo prazo? Trazer novos artistas?

Rincon: Com certeza trazer novos artistas é uma das metas do selo. Entendendo que o Brasil é grande e que a gente vive um momento fértil na parte criativa, então é muito fácil achar coisas interessantes vindo de qualquer parte do Brasil. Eu tô muito forte nesse radar. Conheço alguns artistas com os quais eu de longe já venho estabelecendo contatos, ainda nada oficial.  Mas penso que o selo pode contribuir com o mercado de outras formas também, é muito útil o trabalho de contar histórias. Isso pode vir através de um documentário, de um filme. Tem muitas coisas que eu percebo que o público tem curiosidade, de como funciona, como se produz uma música, como grava… então a ideia do selo é mostrar mais esse universo que a gente vive. Ofertar mais, oferecer mais para as pessoas. Contar as histórias é importantíssimo, que é um ponto fraco que temos na caminhada do rap nacional, já que existiram coisas grandiosas muito pouco lembradas nos tempos de hoje pela geração atual. Cabe aos selos, gravadoras se responsabilizar por isso. Por ora o foco tá no lançamento do meu disco.

 

Ronald: Você é uma revelação para uma parte do público e um veterano para uma outra galera que te acompanha há mais tempo – SP Gueto é um dos melhores EPs do rap nacional e ele faz frente a discos de vários rappers. Como é estar nessa posição? É legal ser uma novidade experiente? Ajudou no desenvolvimento do seu primeiro disco oficial, "Galanga Livre"?

Rincon: Foi interessante por conta da experiência (que acumulei). Quando as coisas aconteceram, chamou a atenção de muita gente. Imagino eu que a maioria das pessoas que são adeptas ao meu trabalho conhecem de alguns anos pra cá – mesmo eu tendo já muitos anos de atividade. A experiência contou muito porque quando começaram a surgir os shows, os palcos maiores, a gente já tinha uma banda, já tinha um trabalho que vinhamos construindo de antes das coisas maiores surgirem. Quando saiu "Ponta de Lança", repercutiu muito bem e depois quando veio o "Galanga Livre", eu já tinha uma sonoridade que passava por vários lugares, com pesquisas de vários lugares: rock, ciranda, tudo. Toda essa pesquisa, esse lance de produção musical, vieram com a experiência. Se eu fosse de fato uma revelação aos 20 poucos aninhos, eu não teria consistência pra fazer um disco duradouro, ou para fazer shows dinâmicos com uma identidade visual, uma identidade de roupas e tudo mais. A experiência foi essencial para assim que as coisas despontassem e eu chamasse atenção de mais pessoas, eu consegui articular bem os meus trabalhos.

Ronald: O próximo disco, o que você tá cozinhando? Que som tá tentando criar?

Rincon: Eu sigo com as mesmas características e signos, passando pela questão de pretitude, africanidade. Mas dentro disso eu tô explorando outros diálogos, outras linguagens que se conectam a isso. África não é um folclore, algo que aconteceu no passado e tudo aquilo é só um registro antigo. Ela ainda pulsa hoje. Muita música é feita no continente, muitos artistas estão se destacando internacionalmente… muitas linguagens de danças, movimentos. Do mesmo jeito que surgem coisas aqui como passinho do maloca, passinho romano; lá surgem também movimentos, danças, linguagens e ritmos no contemporâneo. Isso tem me influenciado bastante. Então posso dizer que me mantenho com minha essência pra esse disco novo, só que dentro de uma narrativa muito mais contemporânea, menos pautada no passado, nos registros passados, como foi o "Galanga Livre."

Ronald: Esse tem sido um ano forte de lançamentos nacionais, o que você gostou de ouvir até aqui?

Rincon: Sinceramente eu acabei não mergulhando muito nos discos nacionais, mas estando antenado ao que está acontecendo, me agrada muito esse ano por conta do estilo das músicas, as bandas. É legal vivenciar um ano em que sai disco do Djonga, Baiana System, Tássia e outros artistas interessantes que estão preparando seus discos para lançar. Então eu penso que dos lançamentos para esse ano, muitos artistas com os quais eu me identifico com a parte do texto, da musicalidade, da ideologia ou qualquer tipo de coisa, com eles lançando disco esse ano, acho que isso vai ser importante pra nós construirmos nossas narrativas. A gente fica muito mais forte quando vem em bloco. É legal quando você tá se propondo a lançar algo e vê outros artistas no mesmo propósito. Então vejo 2019 com muito otimismo.

 

Ronald: E na gringa? O que tem ouvido?

Rincon: O mercado internacional é muito gritante, sai muita coisa. Eu minimamente tento acompanhar mas como eu te disse, eu tô muito forte na pesquisa do contemporâneo africano. No atual momento eu tô acompanhando o Burna Boy. Me surpreende muito ele, como artista pop é quem mais chamou minha atenção. Gosto também de Koffe, cantora jamaicana que tem feito um trabalho muito massa. Gosto de Nenny, que é radicada em Portugal, mas não sei exatamente seu país de origem, mas é uma cantora jovem muito talentosa. Mas essa tríade é o que mais me deixou impactado ultimamente, os lançamentos deles: Burna Boy, Koffe e Nenny. Fora as coisas que eu já gostava, sempre ouço, tipo Travis Scott. Mas acho que a onda mesmo do "mundo manicongo" do momento é o que tá sendo feito em África. Além do Burna Boy, tem Skidi, Yemi Alade, Tekno, Starboy – eu tô bem imerso no que está sendo feito em África e na Europa e meu momento internacional passa por esses lugares.

Sobre o autor

Ronald Rios é roteirista, comediante e documentarista. Apresentou o "Badalhoca MTV" de 2008 a 2011 na MTV Brasil. Na Band fazia o quadro "Documento da Semana" dentro do programa CQC, num formato de pequenos docs sobre pautas atuais na sociedade brasileira. Escreveu para o Yahoo, UOL, VICE, Estadão, Playboy, Red Bull e Billboard. Em 2016 fez a série de documentários "Histórias do Rap Nacional" para a TV Gazeta. Ronald também apresentou de 2010 a 2012 o programa "Oráculo" na Jovem Pan FM e foi roteirista do Multishow de 2009 a 2011, pela produtos 2 MLQS, onde rodou o programa de TV Brazilians, eleito um dos 5 melhores pilotos de TV nacionais de 2011 pelo Festival de Pitching de TV da operadora Oi. Em 2017 e 2018 rodou pequenos docs, podcasts e campanhas multimídia para o artista Emicida na gravadora Laboratório Fantasma.

Sobre o blog

Rap Cru é o blog do roteirista e documentarista Ronald Rios sobre Hip Hop. Brasileiro, americano, britânico, latino… o que tiver beats e rimas, DJs, grafiteiros e b-boys e b-girls, tem nossa presença lá.

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