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6ix9ine tem chance de uma carreira no rap depois de delatar uma gang?

Ronald Rios

01/10/2019 15h13

Continua o escandaloso processo criminal que Tekashi 6ix9ine vem respondendo, que falei brevemente aqui semana passada. Por associação à gang dos Nine Trey Gangsta Bloods, uma organização formada nos anos 90 dentro do presídio nova-iorquino Rikers Island, uma das casas penitenciárias mais perigosas dos EUA – esse é o mesmo lugar onde 2Pac foi preso quando culpado de estupro; Tekashi estava olhando para uma sentença de 47 anos pela frente.

Existe um código das ruas que é levado muito a sério dentro da comunidade do Hip Hop – pelo menos entre a velha escola. "Snitches get stitches", algo como "delatores recebem curativos". Ser um X9 pode acabar com sua marca de "gangsta". Não adianta posar de mau nos videoclipes e cantar que nem um canário como ele fez em frente ao juiz durante 3 dias de longas sessões. Ele deu vários detalhes de operações da gang, deu nome aos bois, como outros artistas tipo os rappers Jim Jones e Cardi B – só faltou realmente ele usar uma escuta e ir disfarçado para alguma festa da gang coletar informação. Sua credibilidade foi manchada. Crédito nas ruas não se tira no banco. The Game e Snoop Dogg foram os maiores críticos do rapper. Então isso significa o quê? Fim de carreira?

Foi o que eu pensei. Promotores falaram com o NY Times sobre a possibilidade de colocar o artista no programa de proteção à testemunhas – que nem a gente vê nos filmes, em que o cara ganha uma vida discreta e uma nova identidade em algum canto do país depois de entregar todos seus parceiros.

Claro que Tekashi iria precisar tirar as tatuagens faciais e parar de pintar o cabelo que nem um arco íris. Hey, mas tudo pra sobreviver, né? Retirar as tatuagens da pele do rosto deve doer pra caramba – só que menos do que ser caçado por uma gang enfezada com você.

Mas eu li na revista Vulture que Tekashi já avisou que não vai fazer uso do serviço. Ele garante que tudo que precisa é reforçar sua segurança 24 horas por dia, contratando uma equipe armada até os dentes e colada no pé dele. É um preço custoso – tanto financeiramente quanto em conforto pessoal, fora a paranoia. Mais do que isso, ele está empolgado em voltar a fazer música. E é claro que seja lá o que 6ix9ine lançar vai ser ouvido e ele vai conseguir fazer muita grana – especialmente se ele fizer música boa. E o Punch da Top Dawg Entertainment (gravadora do Kendrick Lamar), uma das maiores autoridades no rap hoje, respondendo uma turma no Twitter essa semana, já disse que se Tekashi tomar proveito da situação e posar como "sim, eu caguetei MESMO e daí?", ele pode encontrar sua rendição. Fora que ele acredita que o tipo de público de Tekashi não vive necessariamente tão fiel ao "código das ruas", então isso não atrapalharia muito a fan base do artista. A sorte do Tekashi pode ser justamente o fato dele não ser levado tão a sério – seu público é bem jovem e quer curtir, zoar – não são ligados aos códigos da velha escola. Provavelmente vão estar aqui prontos para carregar o artista ao topo das paradas.

Isso faz sentido. Eu não trocaria de vida com Tekashi mas acho que é o melhor que ele pode ter agora – isso se ele não pegar nenhum tempo de cana. Ele pode diminuir a projeção de 47 anos de sentença mas não está claro se ele cooperou o bastante com a justiça para sair ileso direto pras ruas. É cedo para especular mas é possível que ele tenha que ficar um tempo na cadeia, mesmo que (extremamente) reduzido. Só que dentro da cadeia ele não tem segurança particular.

O rap game tem dessas. Pense se você quer jogar mesmo.

Sobre o autor

Ronald Rios é roteirista, comediante e documentarista. Apresentou o "Badalhoca MTV" de 2008 a 2011 na MTV Brasil. Na Band fazia o quadro "Documento da Semana" dentro do programa CQC, num formato de pequenos docs sobre pautas atuais na sociedade brasileira. Escreveu para o Yahoo, UOL, VICE, Estadão, Playboy, Red Bull e Billboard. Em 2016 fez a série de documentários "Histórias do Rap Nacional" para a TV Gazeta. Ronald também apresentou de 2010 a 2012 o programa "Oráculo" na Jovem Pan FM e foi roteirista do Multishow de 2009 a 2011, pela produtos 2 MLQS, onde rodou o programa de TV Brazilians, eleito um dos 5 melhores pilotos de TV nacionais de 2011 pelo Festival de Pitching de TV da operadora Oi. Em 2017 e 2018 rodou pequenos docs, podcasts e campanhas multimídia para o artista Emicida na gravadora Laboratório Fantasma.

Sobre o blog

Rap Cru é o blog do roteirista e documentarista Ronald Rios sobre Hip Hop. Brasileiro, americano, britânico, latino… o que tiver beats e rimas, DJs, grafiteiros e b-boys e b-girls, tem nossa presença lá.

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