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Cardi B e o "rap de stripper"

Ronald Rios

25/07/2019 06h16

Semana passada um dos produtores lendários do game, Jermaine Dupri, criticava o que ele chamava de "rap de stripper", uma cena supostamente liderada pela Cardi B. Como uma vez fizeram as super censoras de rap, as senhoras Cheney e Gore, o beatmaker estranhamente também como censor ao reclamar dessa tendência de MCs mulheres cantando sobre sexo de forma direta, sem enrolação. São muitas menções à vida noturna, a enganar homens com o poder da sensualidade, etc e tal. É lógico que não ficou bem pra ele.

Homens cantam sobre o que quiserem no rap há décadas. Armas, cortar cabeças, ganância desenfreada e um desapego do amor romântico em preferência duma parada mais "fuck bitches". E tudo bem, você canta o que você quiser cantar. Isso é o que livra o rap da hipocrisia: é real. Pode ser incômodo mas é real.

Isso nunca impediu Dupri de trabalhar com nenhum rapper que incorporasse esses temas. Pelo contrário, ele fez muito sucesso em colaborações com rapperscantando sobre sexo – da mesma maneira que essas MCs cantam hoje.

Fica parecendo um puritanismo bobo um cara se incomodar com algo que não é novo, apenas o gênero de quem carrega o microfone. Aliás, nem dessa forma é algo tão novo. Foxy Brown e Lil Kim nos deram nos anos 90 faixas que deixariam ruborizadas audiências em 2019.

O que acontece agora é que Cardi B e outras rappers que seguem esse caminho hiper sexualizado nas letras estão levando mais pra frente, com maior contundência e por que não, mais palavrões. Porque música é uma indústria de quem vai mais longe, testa os limites, especialmente no rap. É aí que você ganha destaque num mar às vezes insosso.

O Jermaine Dupri não entender isso e criticar esses novos talentos carrega um pouco do velho machismo da indústria com um puritanismo de alguém que já não é mais garoto e talvez não entenda mais que os limites sempre foram quebrados pelos maiores MCs. E se ele estiver insatisfeito com o estado do rap, que ele venha produzindo uma MC que faça rap do jeito certo para ele. Do contrário eu vou continuar a ter a Cardi B no mesmo espectro que se encontra o Chronic do Dr Dre ou Doggystyle do Snoop Dogg: reality rap. Ela rima sobre a vida loka que ela tinha porque é o que ela conhece. E isso que torna os personagens no rap interessantes, sua exclusividade. Bola fora do Jermaine em diminuir o trampo alheio sem valorizar o básico sobre liberdade de expressão – você concordando ou não com a visão do artista.

Sobre o autor

Ronald Rios é roteirista, comediante e documentarista. Apresentou o "Badalhoca MTV" de 2008 a 2011 na MTV Brasil. Na Band fazia o quadro "Documento da Semana" dentro do programa CQC, num formato de pequenos docs sobre pautas atuais na sociedade brasileira. Escreveu para o Yahoo, UOL, VICE, Estadão, Playboy, Red Bull e Billboard. Em 2016 fez a série de documentários "Histórias do Rap Nacional" para a TV Gazeta. Ronald também apresentou de 2010 a 2012 o programa "Oráculo" na Jovem Pan FM e foi roteirista do Multishow de 2009 a 2011, pela produtos 2 MLQS, onde rodou o programa de TV Brazilians, eleito um dos 5 melhores pilotos de TV nacionais de 2011 pelo Festival de Pitching de TV da operadora Oi. Em 2017 e 2018 rodou pequenos docs, podcasts e campanhas multimídia para o artista Emicida na gravadora Laboratório Fantasma.

Sobre o blog

Rap Cru é o blog do roteirista e documentarista Ronald Rios sobre Hip Hop. Brasileiro, americano, britânico, latino… o que tiver beats e rimas, DJs, grafiteiros e b-boys e b-girls, tem nossa presença lá.

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